Me pergunto como paramos aqui.
Houve um tempo, segundo meu pai, em que intelectuais, jornalistas, empresários, políticos, diplomatas e artistas frequentavam o mesmo espaço. Trocavam ideias em torno de uma garrafa de whisky, aprendiam, ensinavam e, ao fim, marcavam o próximo encontro. Havia discussões e divergências, claro, mas sempre com a ponderação que o olho no olho traz. Hoje, até “bom dia” anda difícil, já que cada um vive no seu quadrado surdo e antagônico, com dedos doídos de tanto martelar o ódio nas redes sociais.
Estava em Lisboa e, segundo amigos portugueses, num desses espaços dos tempos de meu pai. A arquitetura me pareceu ser a de um pub inglês, com soluços eventuais de um restaurante suíço, mas vi nas ripas de madeira pintada, nos objetos espalhados e nos quadros da sequência de pequenas salas que permitem conversas privadas, um desenho que me lembrou o Antiquarius, no Rio. Não à toa, soube mais tarde que o decorador fora o mesmo: o artista plástico Pedro Leitão.
No PABE, agora com 50 anos de idade, a discrição sempre foi um grande ativo. Afinal, lá nasceram partidos políticos, foram fechados grandes negócios e discutidos os rumos do país, já que ficava junto à sede do Jornal Expresso e costumava acolher as conversas dos jornalistas com figuras públicas. Num lugar como esse só poderia caber o serviço discreto e absolutamente impecável que presenciei.
Há poucos anos, o restaurante mudou de mãos e foi reformado. Nunca saberei do que havia, mas gostei do que vi. Pedi clássicos, como não podia deixar de ser: salada caesar, steak tartare e um vinho madeira como sobremesa. A carne foi temperada diante de mim, ao lado da mesa – aceita mais disso? não gosta daquilo? – e a salada caesar foi das melhores que já comi. De resto, poderia passar o dia acompanhando o ir e vir do carrinho de bebidas ou do tentador carro de queijos. A carta de vinhos é imensa e não tive tempo de estudar, mas as sugestões foram certeiras e não preciso de mais.
Quero voltar para a sapateira, a bisque de peixe e marisco, as amêijoas à Bulhão Pato, o arroz de lavagante, o cabrito assado e todos os outros clássicos que não pude provar. Sobretudo, quero reencontrar a eficiência silenciosa da equipe, que sabe sugerir sem apelar para discursos intermináveis acerca dos ingredientes, procedência ou conceito, que ninguém aguenta mais.
Na saída, ganhei petit fours para amortecer a volta à realidade.
Meu pai gostaria de lá.
PABE RESTAURANTE
www.pabe.pt
Depois de ver essas fotos me deu uma vontade de entrar no primeiro avião e ir conhecer o Pabe! Que maravilha! Aquela ementa repleta de delícias me deixou sem saber o que escolher. Assim que eu puder sair desse confinamento, Lisboa já era o meu destino antes da pandemia, agora o Pabe será uma “obrigação”! Obrigada pela dica.
ResponderExcluirObrigada a você, Sandra, pela leitura! Realmente tem esse jeitão de abraço, que é uma delícia. Espero que viaje, conheça e aproveite!
ResponderExcluirCris, você escreve com o coração 💓
ResponderExcluirObrigada, Elisa! E é verdade! :)
ExcluirSempre uma delícia te ler!
ResponderExcluirDelícia é esse elogio! 🙏🏻
ExcluirDelícia é esse elogio! 🙏🏻
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