A vida no cartão postal - The Restaurant at The Dolder Grand



Cartões postais não são fáceis de habitar e, em geral, não entregam o que prometem. Meu imaginário de Zürich tinha sempre um palácio no alto da montanha, que se debruçaria em meio a florestas sobre o lago, avistando os Alpes. A realidade, no entanto, era bem diferente. Tinha tudo isso e ainda - viva! viva!! - um restaurante.

Em 1897, o hotel DOLDER GRAND foi construído. Concebido como um SPA, hospedou desde Winston Churchill, que nos anos da guerra escapou de seus horrores, até os Rolling Stones, Nelson Mandela, Thomas Mann e a realeza.

Só um adjetivo cabe: “grandioso”. E isso, em geral, é um perigo. Ambientes palacianos em cidades desaquecidas economicamente tendem à decadência, o que não acontece ali. O centro financeiro, que também é um hub de ferrovias, rodovias e tráfego aéreo, tem nas veias o dinheiro, combustível que move empreendimentos desta grandeza.

E a grandeza se estende ao restaurante, da adega de pé direito altíssimo, passando pelo teto histórico restaurado, até a comida de equivalente estatura. “Delicioso”, “delicadíssimo”, “amei”, “divino”, “incrível” eram as notas que pontuavam cada anotação que fiz sobre os pratos do THE RESTAURANT, o restaurante do hotel. E acreditem: nem sempre meu caderninho preto é tão elogioso com menus extensos. Do meio em diante, elogios tendem a não colar no papel, assim como a comida no estômago.

Depois de uns oito amuse bouches, passamos aos pratos. As descrições, confesso, com inúmeros ingredientes em cada prato prenunciavam o desastre, mas não foi o que aconteceu...

As divinas vieiras do Mar do Norte vinham com presunto, uvas e manjericão.





Caviar e ouriço da Bretanha (pode chorar), com manga e chorizo.

























Gambero rosso italiano frito, com fio de goji e marmelo, pimentão defumado e caldo de alface americana. O Condrieu que o acompanhou, era untuoso como a alma do gambero rosso. 

Trufas brancas de Alba, com batatas das montanhas suíças, espinafre e ovos.



O turbot da Bretanha pescado com vara, com foie gras, romã, repolho roxo e nozes era uma poesia de equilíbrio perfeito. 
O veado de Ennetburgen assado, vinha com aipo, leve toque de curry, micro alcaparras, pingos de purê de batatas, café e cereja.  





E ainda essa coisa etérea que foi o sorvete de creme de leite, com o devido pedigree suíço, com suco herbáceo do jardim, absinto, limoncello, tangerina e erva-doce. Indescritível.
Ainda houve outras sobremesas, médias e mini, igualmente maravilhosas. E não pus aqui os vinhos escolhidos para acompanhar cada prato, tão bons que mereciam post à parte. 

E no topo dos meus adjetivos grandiosos, que puseram a casa nas alturas, enxerguei as duas estrelas Michelin e os 18 pontos do Gault-Millau alcançados pela casa. Sem dúvida, uma das melhores refeições do ano.
Meu mais sincero obrigada a Heiko Nieder, um chef alemão de precisão suíça.






THE RESTAURANT
www.thedoldergrand.com
Kurhausstrasse, 65
Tel: 00.41.44.456.6000




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Cristiana Beltrão

Esse blog surgiu da necessidade de organizar dicas de restaurantes, paradinhas, bares, mercados e bebidas ao redor do mundo para os amigos. De quebra, acabei contribuindo para jornais e revistas Brasil afora. Espero que gostem.