Antes de abrir o restaurante, minhas descobertas eram lindas “esbarradas”, românticas e fortuitas. O restaurante certo aparecia porque eu tinha entrado na rua errada, ou por querer bisbilhotar aquela luz âmbar lááá no fim da ladeira. Ou seja: invariavelmente, por flanar sem rumo.
Se, de um lado, trabalho hoje naquilo que amo, de outro, o negócio sobrevive de estar atenta a tudo que inauguram e engolem mundo afora. Ai, que preguiça... O dever de casa que precede a viagem é imenso, e o cruzamento de guias, publicações e opiniões, interminável.
É grande a ansiedade quanto a tudo aquilo que não foi visto. O tempo incidental ficou tão falso que virou anotação na agenda: “de tal a tal hora: tentar esbarrar em algo que preste”.
Das boas descobertas não programadas mais recentes, posso falar de algumas deliciosas, como a Chocolateria QUE BO!, no México, o restaurante INCANTO, em Amsterdam, a sorveteria PARADISO, em Cartagena, ou ainda do objeto desse post: a TAP COFFEE.
 |
Passei apressadamente pela fachada sem letreiro do SoHo londrino.
Sem letreiro? Que curioso! Parei. Recuei dois passos.
Incrível como a simplicidade me grita. Lá estava o espaço comprido, limpo e claro,
com luminárias como adorno único, um balcão de acepipes,
e um singelo letreiro com a palavra: COFFEE.
|
 |
Na seleção de cafés filtrados "do dia", com grãos torrados na própria loja, havia um exemplar Colombiano,
um de Papua Nova Guiné e outro, da Tanzania. Confesso que me deixei seduzir pela descrição marqueteira do Tanzaniano, que incluía termos como “doçura de melancia fresca” e “final de ameixas rainha claudia”. Apesar de não ter encontrado a rainha no sabor – ameixa que só provei na doçaria portuguesa, em calda – me encantei com o café, e isso é o que importa. |
 |
As colheres de chá e café, arrematadas em antiquários,
tiraram o foco da torra e extração perfeitas.
|
 |
E por falar em rainha, a de copas (ou de copos),
você faz o seu pedido no balcão e cada item equivale a uma carta no potinho.
O garçom "cobre" a aposta, levando a bebida até você quando pronta.
|
 |
Para terminar, um sanduíche de cheddar inglês legítimo com chutney.
|
E ainda em homenagem à Rainha, voltei no dia seguinte para meu chá das cinco, que se mostrou igualmente bom. God Save The Queen of Spades, que veio na forma de um friand, termo tão popular na confeitaria inglesa - também associado a gulosos e glutões - que não deve ser confundido com um muffin.
Feito com farinha de amêndoas, claras, manteiga e açúcar, é um primo do financier, com formato diferente. Seu termo é uma redução de friandises, algo como “guloseimas de confeiteiro”, para se comer com as mãos.
O termo foi para as colônias (Nova Zelândia e Austrália) e voltou para a Inglaterra repaginado, permitindo outros recheios, como o de frutas ou pedaços de chocolate.
A conclusão? Que a vida continue me emprestando esquinas, para que eu possa me valer de esbarradas.
TAP COFFEE
114, Tottenham Court Road - Londres
www.tapcoffee.co.uk
De segunda a sexta, das 8hs às 19hs
Sábados, das 10hs às 18hs
114, Tottenham Court Road - Londres
www.tapcoffee.co.uk
De segunda a sexta, das 8hs às 19hs
Sábados, das 10hs às 18hs
Obrigada pela viagem, fiz um transporte, viajei em Alice no país das maravilhas pelo seu texto, quase como uma rainha olhando as copas ou os copos(ótima tirada), quase pude sentir o cheiro do café. Tudo tão interessante e charmoso,desde o caule da árvore até os fofos cachorrinhos. Impossível não estar atenta a cada detalhe de suas fotos .Por fim, essa sua frase reflexiva sobre as esquinas de nossas vidas, com agradáveis surpresas como essa. Vou reler mais uma vez daqui há uns dias, quem sabe não entro em outra viagem?
ResponderExcluirOs cachorros fofos eram de outro post, apesar de que, gostaria que eles estivessem nesse café. Viajei tanto no texto, que confundi os lugares. Ops, Sorry.
Excluir