Era uma noite gelada de Inverno quando cheguei à porta do Corton com meus filhos, reserva em mãos, 15 minutos antes da abertura da casa.
Olhei pela porta de vidro com sobrancelhas inquisidoras e um funcionário me informou com um sorriso burocrático que abririam em instantes. Bem NY, pensei...
Antes que pudesse inspecionar a rua escura em busca de abrigo temporário, uma voz forte e animada nos disse: "Entrem! Detestaria estar com meus filhos do lado de fora numa noite como esta.". Era Drew Nieporent, o dono. Não só deste restaurante mas também do Tribeca Grill, Nobu NYC, Nobu Fifty Seven, Nobu London, Nobu Next Door e da linda loja de vinhos Crush, na 57.
Suspirei aliviada por não ter que duelar com o frio e, pior, com a argumentação infantil. Drew não só nos abriu a porta como recolheu nossos casacos, nos sentou, orientou a equipe para que nos servisse e se despediu com um sorriso tão simpático e acolhedor que conseguiu, miraculosamente, me calar.
É assim que se faz um duas estrelas, pensei.
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Era um dia frio de Inverno quando cheguei à porta do Marea com meus filhos, reserva em mãos, 5 minutos antes do horário da reserva.
Dei meu nome à recepcionista que respondeu com um "aham" e meio sorriso. Bem NY, pensei...
Antes que eu pudesse acalmar a inquietação das crianças me dirigindo à mesa que nos foi reservada, ouvi da hostess que não poderia me sentar antes que juntassem e arrumassem as mesas. Aquiesci.
Passaram-se longos 15 minutos antes que as mesas fossem arrumadas. Sem querer ser indelicada, pontuei: "acho que já estão arrumadas". A outra metade do sorriso da recepcionista veio acompanhada de "sim, eles já vão junta-las". Esperamos, eu e meu sorriso amarelo, por mais 10 intrigantes minutos até que simplesmente juntassem as mesas. Não sei, sinceramente, a razão de tanta demora e também não perguntei.
Ao nos sentarmos, a equipe simpática começou o serviço de couvert e, quando depois de mais alguns minutos o garçom chegou à mesa, sua primeira frase foi: "gostaria de informar que em meia hora fecharemos a cozinha e que o ideal seria fazer seu pedido rapidamente". Cheguei a levantar minha sobrancelha inquisidora, mas a situação insólita conseguiu, miraculosamente, me calar.
Isso não é digno de um duas estrelas, pensei.
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No Marea, as escolhas foram:
- dentice com laranja, pistache e vinagrete de cenoura;
- atum com creme de ostras e alcachofras de jerusalem crocantes;
- spaghetti com caranguejo, ouriço de Santa Barbara e manjericão;
- risotto de funghi ao parmigiano;
- robalo com funcho e cogumelos e um ferratini com ragu de pato, vinho Marsala e pecorino. O melhor da seqüência;
- semifreddo de avelãs com grapefruit, mascarpone e anis;
- crostata de mirtilos com ricota, abobrinha glaceada, pistache e sorbet de limão.
No Corton o menu é fixo, e de 8 pratos:
- chawan mushi de cogumelos craterellus (black trumpet) com toque cítrico;
- foie gras enrolado na trufa negra com cogumelo matsutake, trigo sarraceno e caramelo de alga kombu;
- uma entrada delicadíssima chamada "espírito de batata doce" com gnocchi de batata doce, sementes de abóbora e consomê de presunto serrano com toque de anis;
- linguado com consomê de castanhas e pinhão, purê de maçãs com saladinha de nabos e beterraba divino;
- medalhão de rabada assado em madeira de bálsamo e gengibre;
- bolo de chocolate dos Mast Brothers Moho River com sorvete de figos mission e geléia de estragão. Inesquecível;
- queijo Salers dos Alpes com balsâmico de maçã e gelatina de limão com tâmara e sablé de especiarias com pimenta da costa de Malabar;
- creme de maple tostado com pão de ló de cereja amarga e sorvete de caramelo.
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Ambas as refeições foram excelentes. A experiência que relatei é apenas a prova de que restaurantes são um negócio dificíl que depende de um sem número de variáveis, incluindo humores dos clientes e equipe, referências pessoais e (pura e simplesmente) gosto.
Restaurantes são uma festa para as expectativas: frustráveis ou superáveis, mas sempre individuais.
Talvez me incomodassem a falta de música e o ambiente austero (quase frio) do Corton, não fosse a acolhida.
Talvez me empolgasse com a massa com ouriço do Marea, que normalmente é um dos pratos que mais curto na vida, e não tivesse notado a falta de dois dos vinhos que escolhi na carta, não fosse a recepção.
Talvez, talvez, talvez...
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