De pé, embaixo de “Garden Now Open”, somei as expectativas criadas por boas críticas com minha fantasia íntima de “jardim invernal no Soho” e avancei porta adentro, acesa.
Da figura do caixa na entrada, espichava uma tripa interminável de casaquinhos “michelin” impermeáveis, azul, cinza, preto, vermelho, esfregando-se junto à vitrine, tentando alcançar a graça de um docinho em pleno Inverno. Em minha testa, um letreiro em neon piscava: programa apache, cotação 3 machadinhas.
Partindo do fim da fila, a sequência era a seguinte: 5 minutos de espera no “garden” mal resolvido, 12 na vista embaçada de um fundo de geladeira que se alternava com a central de controle da NASA travestida de equipamentos de confeitaria, 3 minutos na abertura “employees only” que cuspia funcionários com bandejas perfumadas elevadas um centímetro acima da minha curiosidade, e outros 3 na porta “um passinho pra trás por favor” que guardava vassoura, balde e embalagens extras. Ao fim, o balcão de doces, onde rocei por outros 6.
Foram exatos 29 minutos de fila, mais irritantes que a espera em si, dado que só meia hora redondinha daria conta de “anular” meu TOC. Lá, no nirvana com açúcar, avistei Dominique Ansel, muito simpático, tirando foto com fãs e ajeitando docinhos numa eficiência meio “sobrante” de quem espera o próximo clique.
Seu grande sucesso foi o tal do cronut, que fotografei por obrigação profissional, mas nunca me animei a comer. Não é desprezível, no entanto, qualquer criação original em confeitaria que caia no gosto popular, ainda que seja uma desnecessária fusão de croissant com donut. Espero intimamente que algum amigo caridoso vá com tudo e me diga se vale a pena.
Pedi várias coisas, mas gostei mesmo da mousse de pêra com champagne sobre massinha podre com toque delicado de canela; sabor de festas de fim de ano. Queria voltar pra uma éclair de chocolate, esteticamente perfeita, mas lembrei que nada tem graça depois de 29 minutos e um TOC.
Quando a conta ainda parecia não fechar, dei uma dentada num troço aparentemente inocente chamado “Perfect Little Egg Sandwich”, único item na seção “café da manhã” que, apesar do título, é servido o dia todo. Flutuei num colchãozinho etéreo de ovo com gruyère, amortecendo as fatias de brioche perfeito.
Depois de 7 parágrafos de humor ranzinza, doida pra não ter motivos pra voltar, esse gol aos 45 foi daqueles de ressuscitar torcedor do América.
Ok, Dominique, você venceu.
DOMINIQUE ANSEL BAKERY
dominiqueansel.com
189, Spring Street - NY
de 8:00hs às 19:00hs, de segunda a sábado
de 9:00hs às 19:00hs aos domingos
Encantador seu texto. Eu já estava a torcer o nariz para o lugar, mesmo que meio apaixonada pela descrição do tempo. No fim, sorri, já a gente até gosta de um sofrimento que valha a pena.Se valer a pena com um bom queijo então, aquece.
ResponderExcluirPois eu desisti. Ficamos até que uns 20 minutos esperando pra entrar e desanimei quando soube que o tal cronut tinha acabado. Que falta de logística! 😁😁
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