Os "floridos" da gastronomia – La Cocina de Pepina, Cartagena.


Quem mora em cidade turística, sabe bem: de um lado, há o turista que busca Cultura e pesquisa cuidadosamente seu destino, estudando seus costumes e sua história. Já ensaiei muita "aula" sobre o Rio, tão somente pra me calar, ao ver que o viajante versava sobre assuntos locais com mais desenvoltura do que eu. Do outro lado da moeda, há o turista raso -  sem juízo de valor, bem entendido... – que, afinal, só quer se divertir e acaba indo parar num lugar pelo que apreendeu de sua caricatura. Em destinos como Brasil, estão de olho no “exótico” e andam todos floridos pela praias brasileiras com indicadores ao alto, subindo e descendo alternadamente, dançando algo que parece rumba ou chá-chá-chá, sorrindo e mandando um “no hablo español”.

Na gastronomia os “floridos” também acontecem, e Cartagena é tão caricata quanto o Rio de Janeiro. Foi dificílimo encontrar, fora das carrocinhas de rua, boas casas com comida típica do Caribe colombiano. Os restaurantes são o resultado da mistura das expectativas confusas dos visitantes, que buscam o sabor dos “trópicos”, mas o querem em em preparações francesas, italianas, tailandesas, mexicanas e por aí vai.

Sem perder as esperanças, parei no LA COCINA DE PEPINA, mais boteco do que restaurante, com exemplos de pratos de todas as regiões da Colômbia, frutos da pesquisa da socióloga Maria Josefina Yances.

Os pratos são simples, sem nenhuma firula, e às vezes causam estranheza, justamente pela autenticidade. GOSTO ADQUIRIDO LOCAL NÃO FAZ CONCESSÃO AO TURISTA, lição importante para quem quer realmente mergulhar na cultura gastronômica de um País.


Suco de corozo? Perguntou o garçom à minha filha. E o fruto veio acompanhado de inúmeras explicações sobre sua cor única, formato, propriedades incríveis e sabor original. “Vem de uma palmeira” - disse ele. Na boca, um sabor terroso, meio familiar. Corozo, se não é açaí (pesquisei muito, mas não matei), é definitivamente seu primo.


Os ceviches colombianos costumam ser mais ácidos do que nossa referência e levam camarões, na maior parte das vezes. Não é incomum, no entanto, encontrarmos caracóis nessa preparação (sim! lesmas cruas e simplesmente marinadas, ou escaldadas). Acima, com temperinhos, camarões e abacates. Muito bom.



Duas sopas se seguiram, a Caribe, de frutos do mar (acima) e o Mote de Queso, típico da gastronomia costeña, feita de inhame e cubos de queijo costeño (similar ao nosso coalho), cebolas e berinjelas doces e uma boa regada de azeite.



Bolinhas de tubérculos são igualmente típicas. Abaixo, as de inhame acompanham uma a costeleta de porco com "suero atollabuey", creme de leite ácido que acompanha uma série de pratos.



E por falar em bolinhas, uma das mais típicas se chama Cabeza e Gato. A tradicional é feita de plátanos – fruto de polpa mais rija que de uma banana, com casca firme e esverdeada - cozidos e misturados com tomate, cebola, alho e azeite. Curiosamente se come a bolota no café da manhã. Vivendo e aprendendo.



E, não menos importante, um acompanhamento que vi em quase todas as refeições que fiz em Cartagena: os chips fritos de plátano, arroz e saladinha. Olhei pra montagem, a torrezinha de arroz e pensei: ah, os trópicos! Com certeza já vi isso antes, em outras praias...

E meu brinde à cozinha regional
com cerveja local!


LA COCINA DE PEPINA
www.lacocinadepepina.com
Calle 25 #9 06, Cartagena, Bolívar, Colômbia
aberto de terça a sábado, de meio-dia às 21:30hs






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Cristiana Beltrão

Esse blog surgiu da necessidade de organizar dicas de restaurantes, paradinhas, bares, mercados e bebidas ao redor do mundo para os amigos. De quebra, acabei contribuindo para jornais e revistas Brasil afora. Espero que gostem.