As várias faces da fome - Suculent

Sem prejuízo dos rituais impostos pelos restaurantes mais empertigados, em que a voracidade é engolida pela civilidade, tenho especial carinho por aqueles em que o impulso determinante é o de saciar uma fome básica, bruta, mundana.

É aí que sai o “restaurante”, termo aplicado ao modelo parisiense, e entra a Casa de Comidas, acepção anterior que espelha a alma de Barcelona.

Numa antiga bodega da área de El Raval, no centro histórico, reduto de cortiços, cafajestes e mulheres de reputação duvidosa no início do século 19, Carles Abellan, proprietário dos já imbatíveis Comerç 24, Tapas 24 e Bravo 24, instalou o SUCULENT, projeto ambicioso e genial na pseudo-simplicidade.

Não se deixe enganar: o ambiente traduz desprendimento e farra, mas a cozinha entrega o que o paladar exigente já aprendeu, escoltada e elevada pelo serviço eficiente e encantador.

À medida que o tempo passava, meu apetite que entrou brutesco, foi sendo lapidado pela qualidade dos ingredientes e execução irremissível. Meu lado mundano saiu saciado, assim como o lado gourmet. Saí daquela casa com (bem) mais do que comida. Saí com a vontade de voltar.

SUCULENT

www.suculent.com

Rambla Raval, 43

93 443 65 79

de terça a domingo, das 12:30hs até 1:00h.

Fechado aos domingos para jantar

* a casa tem uma sala privada para

degustações que vale conhecer.

Aspargos brancos e macios, cozidos com maionese de missô branco,
toque de nozes e azeite de baunilha.

A brandade de bacalhau delicada, leitosa, branquíssima veio com suco doce de azeitonas.

Alcachofras de El Prat com molejas e cecina de León
(meu impulso bárbaro era gritar e bater no peito).

Croquetas de rabada com cogumelos trompetas de la muerte.

O purê que acompanhava a arraia tinha seu lado “bruto” nos grandes nacos de batata,
e vinha com raspas de cítricos, redução de balsâmico, alcaparrones e pinolis.