Mesas grudadas, pessoas descoladas. - Estela, New York




Era atrás de uma portinha, num daqueles apartamentos antigos de Copacabana, que minha madrinha – a saudosa Tia Ziza – me fisgava pelo estômago a cada 15 dias. Fazer uma adolescente visitar uma senhora de 80 anos não é tarefa fácil, mas tia Ziza tinha lá seus trunfos. Além de adorável, sua comida simples, saborosa e direta, teimava em me fazer voltar.

Anos depois, a história me veio à cabeça enquanto me perguntava como convencer uma menina de 11 anos a me acompanhar em aventuras gastronômicas. 

Guiando seus passinhos, subimos as escadas até o ESTELA, em Nolita, um daqueles lugares feitos de mesas grudadas e pessoas descoladas.



O longo corredor espartano com uma parede de tijolos ali e um bar aqui, combina com os prédios de ferro fundido do bairro, que floresceu na virada do século 20. 

As descrições telegráficas do cardápio que incluem “azeitonas”, “amêndoas” e “salame” entre os pratos disponíveis, tornavam o pedido mais fácil para minha companheira de mesa. Fomos de atum com feijões e pimenta de Sichuan; cordeiro com chermoula e mel; e bolinhos de ricota com cogumelos e pecorino sardo que, se não eram pratos exatamente simples, pareciam inofensivos o suficiente para minha filha.

Sichuan?
Preferi o cordeiro com chermoula – a marinada à base de limão, sementes e especiarias do norte da África – , e os bolinhos de ricota, que pareciam um gnocchi em consistência, mas não em formato, com seu delicado “sombrero” de cogumelos. 


Quanto ao atum, minha filha não entendeu porque alguém gostaria de usar pimenta de sichuan, um tempero destinado a adormecer seu órgão mais animado: a língua. 

Atum com feijões brancos e pimenta de Sichuan.







A verdade está no meio, como em
"un fino que va para amontillado"...

Os pratos mudam com frequência e a carta é bastante original (tomei um “improvavelmente ótimo” branco da Córsega). 

Um grande ativo é o DIVINO Jerez da Equipo Navazos, o que seria suficiente para me fazer bater ponto. 

Com exceção do brunch dominical em família, o local não vê muitas crianças. É intimista, adorável e perfeito para tapas, drinques e “aproximação acidental”. 

Ao sair do local, me ocorreu que, se de um lado, a comida de Estela não era tão despretensiosa ou direta quanto a da tia Ziza, era saborosa o suficiente pra me fazer voltar.






















ESTELA
www.estelanyc.com
47 E Houston St -  New York
1 212 219.7693
de segunda a sexta, das 5:30pm às 11pm
sábado, das 11am às 2:30pm e das 5:30pm às 11:30pm
aos domingos, como nos sábados, mas fechando às 11pm












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Cristiana Beltrão

Esse blog surgiu da necessidade de organizar dicas de restaurantes, paradinhas, bares, mercados e bebidas ao redor do mundo para os amigos. De quebra, acabei contribuindo para jornais e revistas Brasil afora. Espero que gostem.