Um "rrriro" por "Cartarrrrena" - Cartagena, Colômbia



Não havia outro destino, para mim, em Cartagena, que não fosse a Ciudad Amurallada: o Palacio de la Inquisición, o Museu de Arte Moderna, a Plaza de los Coches e tantas ruas e passagens que serviram de inspiração a Garcia Marquez, durante os anos em que lá esteve.

No porto mais importante da América do Sul, desembarcaram colonos espanhóis, escravos africanos, comerciantes sírio-libaneses, traficantes, piratas e..... eu.

Índios, hispânicos e negros moldaram a cidade em todos os aspectos, inclusive o gastronômico. Com o apetite estimulado pela obra de Teresita Román de Zurek, verdadeira enciclopédia da cozinha catageneira que destrincha o papel dessas três etnias, saí em busca de pratos que me enchessem, alma e bucho, de Cultura. Era Natal, e as luzes que adornavam as casas coloridas lhe emprestavam um ar mágico.

Infelizmente, Cartagena está no imaginário mundial muito mais pelos cenários do filme “Piratas do Caribe” – o que imediatamente desbotou o romantismo das luzes natalinas e as transformou em alegoria da Disney – e muito menos por sua riqueza cultural, que é imensa.

Como disse em post anterior sobre o COCINA DE PEPINA, uma bela exceção, os restaurantes de Cartagena raramente servem comida típica do Caribe colombiano. São uma mistura das confusões das expectativas dos turistas, com ingredientes locais em preparações francesas, italianas, tailandesas, mexicanas e por aí vai. Mas não desanimei e fiz belas descobertas, se não autênticas, igualmente saborosas.

AREPAS
É nas ruas que se acha a cozinha de raiz. As “arepas”, herança indígena, estão por todo canto, e as melhores, assim como o nosso acarajé, não estão em restaurantes. Essas panquecas de milho fritas ou assadas, são comidas no café da manhã ou como "comida rápida" em qualquer hora do dia. Há inúmeras variações, inclusive doces, mas as tradicionais vêm com queijo costeño (um primo do queijo coalho) e ovos, adição espanhola à receita.


PALENQUERAS
Para frutas locais, a qualquer hora do dia, aviste uma “palenquera”. Assim como tivemos nossos quilombos – feitos dos negros fugidos de seus senhores – a Colômbia teve seus "palenques". No entanto, as mulheres com roupas coloridas e palanganas na cabeça com frutas frescas, não pretendem representar algo típico e local. São guardiãs das culturas africanas com dialetos, vestimentas e costumes próprios, totalmente distintos. Quando uma criança nasce, choram porque nasceram lá pra sofrer. Quando alguém morre, celebram com festa a volta aos ancestrais africanos.



PLÁTANO
Obrigatório na gastronomia colombiana, o plátano, ao contrário das bananas, tem polpa rija e casca mais firme e esverdeada. 


Os patacones, discos de plátano verde frito, fazem papel de "pão" em todas as refeições 
e ainda são base de canapés nos chamados “montaditos”. Como este aqui: 
com bolinhas de abacate e posta negrauma carne assada, por quase duas horas, 
regada por suco de laranja, alho, tomates, cebolas e cravos. Muito saborosos.

RESTAURANTES:

EL GOBERNADOR
Um endereço que faz bom uso dos ingredientes locais, o restaurante do Hotel Bastión é tocado pelo chef executivo Jaime Rodríguez, com consultoria dos irmãos Rausch, os célebres chefs da TV Colombiana.

Provei um bom salmão com azedinha sobre “boronia”: preparação típica feita de 
creme espesso de berinjelas, nossos queridos plátanos (claro) cozidos, com queijo.


E mais: leitãozinho com purê de batata-doce, abacaxi grelhado e barbecue de lulo.


















PASTELERIA MILÁ
Para começar bem o dia, uma das paradas mais adoráveis em Cartagena, para adultos e crianças. Com sanduíches, café da manhã completo e arepas, tem 3 pequenos ambientes e de todos se avista a torturante vitrine com tortas, doces e outras gulodices. Peça um coado delicioso, que normalmente vem acompanhado com água de “hierbabuena” (hortelã) pra limpar o palato.



GELATERIA PARADISO
O melhor sorvete da Cidade Velha vem embalado num ambiente divertido e kitsch à la Serendipity, em NY. Prove um de lulo, um fruto andino “conflitado”, que parece um tomate mas tem sabor azedinho, entre maracujá e abacaxi.



RESTAURANTE 1621
No século 17, freiras se escondiam numa adega para espiar as noviças que comiam no refeitório do convento de Santa Clara. Hoje, o mesmo refeitório é um restaurante batizado com a data da construção do convento: 1621. Na cozinha, uma parisiense. O restaurante se espalha pelo histórico jardim do hotel, que ocupa um quarteirão inteiro e tem quartos decorados pela filha de Botero. Palmeiras, tucanos e o coaxar de sapos na harmonia.



CLUB DE PESCA
O Club de Pesca, fundado em 1956, é um tradicional restaurante cartaginês, situado numa fortaleza militar histórica. Os peixes são fresquíssimos e sem grandes alegorias, como gosto.  Por favor “sublime” a música ao vivo de gosto duvidoso, e foque na cidade murada e no vai e vem de lanchas se atracando para o jantar.



VERA
Um ambiente amplo, claro, com cascatas de água por todos os lados, um bar agradável e serviço muito simpático. Porque há sempre um restaurante italiano pra chamar de seu em qualquer lugar do mundo.







4 comentários:

  1. Que bacana Cris, em poucos dias você consegui captar muito da alma da cidade. Se consegue vir uma segunda vez, te levo para os destinos fora da Ciudad Amurallada!

    Faltaram os pontos cervejeiros como o Território Beer, Beer Statio e BBC. Todos com cervejas próprias. Bacana!

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  2. Obrigada, Brigante! Faltaram mesmo os de cervejas, vinho e café mas achei que o texto já estava imenso. Dos lugares que vc citou, só fui ao BBC e adorei. Você realmente sabe bem mais do que eu nesse quesito porque praticamente mora a trabalho, né? Aí é covardia... Da próxima peço dicas pra você! Beijos e obrigada!!!

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  3. Uma pena que fecharam o BBC! Ouvi dizer que vai abrir em um outro lugar, um pouco menor. Seus textos nunca são imensos. São extremamente leves e gostosos de ler!! Realmente não sei bons lugares para se tomar vinho aqui. Vou pesquisar! Grande beijo!!!

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Cristiana Beltrão

Esse blog surgiu da necessidade de organizar dicas de restaurantes, paradinhas, bares, mercados e bebidas ao redor do mundo para os amigos. De quebra, acabei contribuindo para jornais e revistas Brasil afora. Espero que gostem.