Primeiras impressões - Valletta, Malta

 



Disclaimer: esse é um post ranzinza, mas só até a metade.


Chega gente de tudo que é canto do mundo, em Malta, tentando pegar carona na demanda crescente de serviços enquanto aproveita o país belíssimo. Vendedores, garçons, taxistas ou porteiros costumam estar lá de passagem. O resultado é um serviço turístico ruim, abaixo da média europeia.


Os taxistas que peguei eram jovens kamikaze que me levavam dentro do carro bomba, som nas alturas. Os vendedores e garçons reclamavam do patrão, do trabalho e da vida, enquanto me atendiam: "era pra eu passar 5 meses, ganhei pouco, vou ter que ficar mais". Como a independência maltesa se deu muito recentemente, o país me pareceu, de início, uma casa cheia de adolescentes, sem adulto pra lhes puxar as orelhas. 


Não se assustem. Passado o breve tranco na expectativa, foi tudo lindo em Malta. 


E, voltando aos táxis... 

A caminho de um restaurante, enquanto papeava com o motorista, me lembrei da frase de Churchill: “Meus gostos são simples; fico facilmente satisfeito com o melhor”. 


Adorava champanhe Pol Roger, o Primeiro Ministro, e a vinícola lhe retribuiu o afeto batizando de Cuvée Winston Churchill o lote lançado um ano após suas melhores vindimas. Além do vinho, levava às trincheiras sua banheira portátil com aquecedor, brandy, sardinha, carne enlatada e chocolate. 


Pensava nisso enquanto o motorista maltês falava sobre sua melhor lembrança de infância: o Natal com a avó, quando ela lhe preparava seu prato especial: carne enlatada à moda tal. 


Já não escutava mais nada. A lata ficou entalada em mim. 

Mas carne enlatada? Seu prato favorito?, perguntei.

Pois sim. 


E aí entra o Winston da meada. 


Malta, aquele micro país no meio do oceano, produz menos de 20% dos alimentos que consome e é totalmente dependente de importações. E pior: assim como Kuwait, Libia ou Yemen, está entre os 10 países com menos água por habitante e tem o mínimo necessário para sustentar a vida e agricultura. Do outro lado, na ponta “gente”, é dos países com maior densidade populacional. E então vem a Segunda Guerra e acaba com tudo: água, lavouras, devastação total. A situação foi tão grave que, em dado momento, comiam ratos. 


Eis que, um belo dia, surgiram anjos ingleses dos céus despejando de seus aviões inúmeros suprimentos. Sobretudo... carne enlatada. 


A avó do motorista maltês achava, com razão, a lata de Churchill a melhor comida do mundo.


Moral da estória:

Cada um chama de caviar o que bem entender.


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Cristiana Beltrão

Esse blog surgiu da necessidade de organizar dicas de restaurantes, paradinhas, bares, mercados e bebidas ao redor do mundo para os amigos. De quebra, acabei contribuindo para jornais e revistas Brasil afora. Espero que gostem.